segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

À minha morte e aos vivos

Espero jamais saciar-me da vida
Que martírio!
Mas que dor ainda mais aguda
Saber que direi que amo todos os que amo
Que não restarão mágoas ou amores
A razão do amanhã reside no desespero tranquilo de saber que não lerei tudo aquilo que desejo
E perderei infinitas primaveras em Paris

 Mas é enorme a minha alegria de que sempre existirão mistérios
A minha insaciável curiosidade
O desconhecido adormecido no peito daqueles que amo
A construção e desconstrução do que conheço
A realidade inatingível
E a verdade que nunca irei alcançar

 Morreria feliz se descobrisse que estava errada
Que em toda a minha vida tomei senão decisões equivocadas
Não partiria envergonhada, mas satisfeita

 Peço que não se lamentem
Pelo que vivi ou pelo o que não vivi
O tempo nunca foi pra mim nada além de consenso
E quando não fizer mais parte dessa humanidade
Nada mais me significará

 Não serei absurda e direi que não sofram
Ou esperarei grandes homenagens
Mas deixo nesses versos apressados
O registro de que em vida, a morte foi para mim consolo

 Espero morrer com o copo de café pela metade
O cigarro queimará no cinzeiro
Com o amigo a me esperar no bar
A roupa secando no varal
E tudo seguindo seu curso