segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

À minha morte e aos vivos

Espero jamais saciar-me da vida
Que martírio!
Mas que dor ainda mais aguda
Saber que direi que amo todos os que amo
Que não restarão mágoas ou amores
A razão do amanhã reside no desespero tranquilo de saber que não lerei tudo aquilo que desejo
E perderei infinitas primaveras em Paris

 Mas é enorme a minha alegria de que sempre existirão mistérios
A minha insaciável curiosidade
O desconhecido adormecido no peito daqueles que amo
A construção e desconstrução do que conheço
A realidade inatingível
E a verdade que nunca irei alcançar

 Morreria feliz se descobrisse que estava errada
Que em toda a minha vida tomei senão decisões equivocadas
Não partiria envergonhada, mas satisfeita

 Peço que não se lamentem
Pelo que vivi ou pelo o que não vivi
O tempo nunca foi pra mim nada além de consenso
E quando não fizer mais parte dessa humanidade
Nada mais me significará

 Não serei absurda e direi que não sofram
Ou esperarei grandes homenagens
Mas deixo nesses versos apressados
O registro de que em vida, a morte foi para mim consolo

 Espero morrer com o copo de café pela metade
O cigarro queimará no cinzeiro
Com o amigo a me esperar no bar
A roupa secando no varal
E tudo seguindo seu curso

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Que prazer mais egoísta

Pouco sei do que digo
Quando me tens assim
E me olha que até fere
Da forma com que estou aberta
E me transpassa em exagero

Essa explosão que me vem ao peito
Preciso que o tempo me ajude a filtrar
Toda emoção e pensamento
que enlaçados
não os sei distinguir

Não se zangue se me falta respostas e razão
Me encontro em qualquer inspiração
Em meio a tanto sentimento que sufoca
Quando um escapa, me vem aos olhos
E me penso tão estúpida
Por saber: estava aqui o tempo todo
Eu sempre ocupada demais tentando sentir tudo ao mesmo tempo
Preciso encontrar nesses detalhes a que me apego
O ponto de encontro onde tudo nasce

Vejo em você esse elo
Que se sobressai e me prova que a essência é a mesma
O que nos liga e me move

O apego aos fatos
Ao que indubitavelmente é real e certo
Eles, você os filtra
Constrói pensamento
Faz a razão

Não tenho em mim apego a qualquer realidade
Me distancio dos fatos
Vou de encontro às ideias
E a qualquer concepção que não seja minha
Confio a mim apenas o papel de absorver
E quando o momento vir
Talvez se misturem no meu interior
Encontrem o que quer que seja exclusivo do que sou
Se apresentam de forma clara
Só então encontro razão
Construindo elos no nem sempre se vê
Mantendo essa realidade instável
quase como forma de proteção
para desconstruir
Nesse processo eterno

E tu, na tua forma contrária de viver
Desconstruindo toda realidade alheia a ti
Compreendendo o mecanismo de todas as partes para então ver o todo
E tomar então o real como coisa sólida

Não vejo em que ponto esses processos convergem
E compreendem-se mutuamente
Mas é claro na forma quase invasiva com que me olhas
O que penso e a realidade insólida que me sustenta
Você os vê
Quiçá os compreende a parte da força com que nego à reflexão
Espero que fluam e que me venham sem esforços as respostas que irei negar

Queria que soubesses
Que admiro esse mecanismo inverso
E a forma com que o apresenta
Tenho por você esse amor que sufoca
E que não posso achar de outra forma: não tem razão
Porque nenhuma das minhas razões
É sólida, ou grande o bastante

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Que ironia
Deixar sem pesares que se aproxime assim
Tu, detentor sem culpas, de toda ruína ilusória
que poderia acometer-me

Se me dilaceras ao menor dos toques
está aquém da minha vã compreensão
a respeito do sinto e me entrelaça
a razão do que me instiga
a buscar com tanta fome
que me tenhas cada vez mais

O perigo! Não o sinto
Só há dele sombra
A me lembrar: a mão que afaga é a mesma que apedreja
Mas não causas pena a minha chaga
Nem há da ruína mais que ilusão
Ou ilusão maior que a felicidade que me enlaça

Nenhuma das minhas concepções tem razão
O medo que me acomete
é fruto da ausência de pesares
com que me abro sem pestanejar

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Não tenho consciência do passar do tempo
Toda mediocridade me é alheia
Realidade alguma me é externa
Tudo é uno e faz sentido
O decurso natural flui para além de nós
Já não o vejo
Nada sei, ausento-me de explicação

Não há maior verdade
ou metafísica
ou qualquer concepção grandiosa
que supra a dimensão
do que a sua proximidade faz-me compreender
Tudo é claro, simples e segue seu curso
Tudo é longínquo

Ausente de você,
amo, perduro
mas não sou em plenitude
nem o quero
Me abstenho de controle
Todo sentimento e sentido, se antes latentes
escapam-me e não vejo por onde

Meus escudos e proteção
Minhas barreiras sentimentais e aspirações
quiçá a ideia que de mim fazia
não as vejo
nem há delas cadáver
dissiparam-se
independentes de minha vontade ou ordem

Quando se vai
Se ao acaso seu cheiro encontro guardado
Encontro-o por inteiro, em toda a unidade do teu ser
Ainda que em mim esteja

Qualquer compreensão me parece banal
A individualidade que me constrói
As variáveis que me compõe e tudo o que sou em complexidade expoente
Harmonizam com o universo do que és
Me alcama o espírito
E traz qualquer paz interior que inquieta

Nenhuma proximidade me é o bastante
Calor algum me sufoca
Amo para além da consciência das minhas limitações
Não racionalizo
Nego minha condição enquanto animal racional
Afirmo que sinto, que vivo, amo e que tudo tem razão

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Ode à Augusto dos Anjos (e a o Lui!)

Era mártir,
cega pelo individualismo ultrarromântico
não via aquém do maniqueísmo francês
que em prepotência sem precedentes
foi ainda prostituído
após quatro séculos de abuso

Escapismo social faz-te alheia a ti
enxerga-te aos avessos
és incompreensível frente as dores
toda a sujeira que te renega
cospe-a devolta
Nega o pilar que te constrói

És influenciável
não agente passivo
Escarras a boca que te beija sem propósito
Tu és o todo, animal social!
A moral que a prende é interna
Não há chave mitica que a livre dessas correntes
Aprisiona o próximo
Dais continuidade ao decurso natural das coisas

Aceita tua pena,
cura tua chaga,
acende teu cigarro.
Poderia martirizar-me por toda a mediocridade devastadora
que me parece alheia
A ausência de propósito
sem o esforço de Pessoa
ou a razão de Schopenhauer
torna-se desprezível
E censurar a censura
é sentimentalmente sensato

Se sou medíocre
o sou consciente
ausenta de mim toda definição
A razão esconde a solução de quaisquer mistério
condenar a ignorância é me negar a natureza

Ó seres vis!, em qualquer que seja tua concepção de seu mesquinho sentido
Busco eu aprovação mítica da realidade que tenho por dentro?
Duvido do mitico e de toda divindade
Ponho a prova céu e terra
Desconfio o sentimento e o sentido
Equiparo-me ao mais estúpido ser em capacidade
Nego veementemente reflexões
Pouco importa-me a origem ou o final
Liberta-me da prepotência filosófica
que esta me enoja
e me cospe a cara hipocrisias

A ignorância! Belíssima musa romântica!
Cega-me de amor!
Não me deixes ver
A impotência frente ao que a consciência não modifica
Não me deixes tomar conta das limitações que me impõe
Livrai-me de todo o mal!

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Um religião que modifica sua doutrina e o místico em prol de interesses econômicos não merece respeito. Enfia sua fé no cu.