quarta-feira, 6 de julho de 2011

Ode à Augusto dos Anjos (e a o Lui!)

Era mártir,
cega pelo individualismo ultrarromântico
não via aquém do maniqueísmo francês
que em prepotência sem precedentes
foi ainda prostituído
após quatro séculos de abuso

Escapismo social faz-te alheia a ti
enxerga-te aos avessos
és incompreensível frente as dores
toda a sujeira que te renega
cospe-a devolta
Nega o pilar que te constrói

És influenciável
não agente passivo
Escarras a boca que te beija sem propósito
Tu és o todo, animal social!
A moral que a prende é interna
Não há chave mitica que a livre dessas correntes
Aprisiona o próximo
Dais continuidade ao decurso natural das coisas

Aceita tua pena,
cura tua chaga,
acende teu cigarro.
Poderia martirizar-me por toda a mediocridade devastadora
que me parece alheia
A ausência de propósito
sem o esforço de Pessoa
ou a razão de Schopenhauer
torna-se desprezível
E censurar a censura
é sentimentalmente sensato

Se sou medíocre
o sou consciente
ausenta de mim toda definição
A razão esconde a solução de quaisquer mistério
condenar a ignorância é me negar a natureza

Ó seres vis!, em qualquer que seja tua concepção de seu mesquinho sentido
Busco eu aprovação mítica da realidade que tenho por dentro?
Duvido do mitico e de toda divindade
Ponho a prova céu e terra
Desconfio o sentimento e o sentido
Equiparo-me ao mais estúpido ser em capacidade
Nego veementemente reflexões
Pouco importa-me a origem ou o final
Liberta-me da prepotência filosófica
que esta me enoja
e me cospe a cara hipocrisias

A ignorância! Belíssima musa romântica!
Cega-me de amor!
Não me deixes ver
A impotência frente ao que a consciência não modifica
Não me deixes tomar conta das limitações que me impõe
Livrai-me de todo o mal!