sábado, 30 de abril de 2011

Literatura é senão contemplação da dor alheia, com externos do lado avesso. E o que dói por sentir e não viver, pode-se viver e não sentir, com todos os filtros humanos e poéticos de realidades contruídas.
Ao meu bem amado, os meus pêsames!
Não reivindico minha dor pela tua
Meu egoísmo é aquém qualquer sentimento
E se o seu pesar for maior que o meu,
esqueça-o!
Infeliz és tu se não queres que sofra
Há prazer no meu penar
conquanto não seja teu

Adentrastes portas irreais do meu infinito
Enquanto distante, idealizou-me
Ainda que houvesse contentamento
na força com que me quis de volta
jamais o desejei
a melancolia a qual me submeteu

Imponho a ti, portanto
o desconforto de evitar o meu mal
não recordo em momento algum
ter clamado proteção
Conforma-te com a dor da dor
Pois desta não abro mão
Assumo a máxima do meu altruísmo
como vêemente negação de sua existência

Eu sou egoísta.

sábado, 9 de abril de 2011

Cemitério vivo

Era feito de uma profundidade tal que encantava
A qualquer um que não soubesse que era banal
e que aquele poço sem fundo era vã tentativa
de esconder sentimentalismo do mais puro

Mas assim, perto demais para ver além
ou por completo
cega por excesso de claridade
verdade que se camufla no ambiente
tão real, desconhecidamente real, por dizer
se esconde a vista

Quando a vontade de saciedade é maior que a fome
sugando sem pesares
abre-se frestas na alma
e o inconsciente é tamanho que não se nota

Quem sabe se eu tivesse olhado para fora, pro lado
me embrigado do vinho que me trouxe
visto por dentro
espelhada em você por fora

Que faço agora da história que tinha guardado para a outra semana?
As bolhas nos meus dedos feitas de concreto quente sem qualquer propósito
E qual elas poderiam ter?
Encontro-me em uma realidade tão palpável e absurda
que duvido do real
Estúpido como a roupa estendida no varal do cadáver súbito
que, se ainda molhada, o mesmo sol vai secar
e qualquer concepção de tempo deteriorar
como tudo o que podiamos ser
resta filtro para além do cigarro