segunda-feira, 22 de novembro de 2010

O tempo que hei sonhado
Quantas vidas por mim passaram!
Na utopia, que me mantinha,
estava eu despida de afetos
A ausência de propósito aquietaria
Ao invés de me trazer essa agonia
E eu, nua, livre de qualquer humanidade

Eu, jovem, sem passado ou futuro
Eu, frágil, insuportável em minhas falácias
jamais seria amada
Eu não seria corrompida por sentimentos
ou perspectivas e reivindicações
Não tomaria resoluções afirmativas
Eu, livre

A mesma flor que ao sol floresce
Ao sol seca
Assim como todos os sonhos da menina
que mora na rua de trás quebraram-se
(Sim, Esteves! A pouco se casou, sim.
Em uma folha de jornal)
Queimaram minhas aspirações
Mas ninguém lamentou
ou ao enterro compareceu

Nunca conheci quem tivesse me virado a cara
Porém não me olharam
Ao atirar minhas verdades na lama
Venham, me contestem!
Clamem pela morte das minhas feras
Contudo
por favor não contem
A insignificância que Édipo não me deixa ver

Todas as feras míticas que criei
Não as inventei, não, mas as cuidei como se fossem minhas filhas
de mim já não fazem parte
Conservo velhos costumes
Na minha ilusão e memória
me transformaram, eu lírico, em algo sem idade
Por direito me declaro suficientemente idosa
para alguns deles incorporar permanentemente
no meu eu metamórfico
Ainda que sejam todos nada além de externos,
imagens sem som.

Portanto não se sinta repelido
Gosto de ti tanto quanto me queres bem
Quando ao fim chegar minha mutação
Verás o quão calorosa
e munida de afetos eu serei

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Toda revolução deveria ser feita de beleza.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Sou humana e maleável
Me adapto a qualquer situação e dor
Mas contestar minha moral
De dentro, não de fora
Que catástrofe!
Absurdo é torturar minha chaga

Ainda és externo
E vens assim
Sem reivindicar, sem doer
Me separar de minha quimera

A liberdade de valores que procuro
esta que deveria me virar para mim
A mostrar que essa face vil
no seu sentido literal e podre
é tão benévola quanto qualquer outra

Não fere meu orgulho
Não me fere sem tormento
A dizer que me queres
Enquanto sou metamorfose

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Boulevard of broken green

Música
Antes de ser silêncio
No meu infinito, antes de ser
Mutante que me afoga

Desconhecido a afagar meus cabelos
Vivendo de outras ideias
Hipocrisias que me sustentam

Os anos passaram
O papel corta, seus sonhos também
Sonhos de celulose

Queria segurar sua mão com as minhas palavras
Seu braço, tudo
Antes do meu cigarro queimar seu pedido para a sua cama
Bebendo do seu vinho melhor que o meu
A me arrepender do meu amor melhor que o seu

Você é só música
É silêncio e movimento
Eu sou real
remediavelmente real

Fica por perto, não me incomoda
Deixa eu fazer a minha adolescente feliz
Ela gostaria de lhe ver
Doze anos, tanto faz
Aquela não era sua filha
A maquiagem do meu olho escorre até os lábios, mas você não vê
Não é você, só sombra
Ninguém vê, nem se importa

Meu sarcasmo ri
O ridículo soa como endorfina quase sempre
(E essa talvez seja sua ideia)
Tem uma menina bêbada do meu lado
Diz com a voz embargada que você partiu o coração dela
Acho que você me respondeu que havia crianças te pertubando
Me desculpa, eu não sintonizei minha audição hoje
Ela não teve as mesmas chances que eu
Mas me trouxe aqui hoje, não irei esquecer

Vou tragando o ar e a fumaça devagarinho
Saboreando a minha desilusão e lucidez
Enquanto o tempo me permitir, fumarei meu cigarro
lento me embrulhando
Como o som dos seus dedos fez um dia

Ah, quando tempo!
E o mundo, quem sabe, era igual
Porra! Não muda nada

Se talvez o sentido que você me deu
fizesse sentido pra você
Se os meus pés não doessem tanto
E o efeito do meu cigarro nas suas cabeças
não me causasse tanto asco
Então foda-se. Eu continuaria a nada ser
Incapaz de transformar a minha ausência de mim mesma
Em algo que não fizesse parte de você

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Desgosto demasiadamente daqueles que chegam à porta mas não batem, os que, como eu, hesitam no último segundo e conformam-se com o não dito.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Sobre exclusividade

Não tenho motivos
(nunca os tive, talvez)
Certezas me causam repulsa
Não sou
Sou feita de negações

Meu desejo é paradoxal
Minha liberdade é não querer
Me disseram que é falta de perspectiva
Sabino diria que estou aberta
em uma dualidade minha para mim
quem eu sou é tão intrínsico
que perdi quem quero ser
Pessoa diria que sou como Deus
(Fernando, chocolates ainda são minha metafísica)

O eu-lírico da menina da rua defronte
também é masculino
Se me chamasse Eduardo
usaria uma cadeira de rodas
e resolveria o meu problema.

Da Vanguarda Popular Revolucionária
me diriam que não esperar nada da vida
é uma forma de viver

Ah, doce Dulce!
Poderia admirar-te
Se uma dulce vida tomada
não tivesses escondido
Se ao acaso, algum dia
cortares por fim (e ao todo)
essas raízes marxistas
lhe darei um beijo

Vocês revolucionários e seus extremos
Não, Karl não foi utópico
foi senão exagerado
(Agenor, me perdoe
protegi teu nome por amor)
injusto, ao meu ver
Não que importe o que vejo
afinal, além de córnea irregular
grito em silêncio

Todas essas imposições
pouco me importa se bem intencionadas
me castigam a alma, sem descanso
Não, não faço reivindicações
Se um dia baterem as portas da justiça
mas o visitante, arrependido, jamais for visto
Então minha sanidade terá me puxado pela mão

Que sei eu do que é certo?
Eu, que nada sei, não poderia dizer o justo
Não me imponho a ninguém
se alguém algum dia afetei
foi porque deixaram a porta aberta
sem tempo de me levarem embora

domingo, 25 de julho de 2010

Não vou pedir
Se quiser ficar, que fique
Encontrou a porta aberta, para sair e entrar
Mas não se faça em casa.
Ah, doce é a humilhação do inconformismo
Que crápula és tu!
Que custava me deixar de lado?!
O quão maquialévico
(No seu sentido literal
E não à imagem maléfica que fizeram do pobre Nicolau)
É alimentar meu resquício de vida e esperança
e me sustentar cadáver?
Se um dia resolver retornar
Estarei além do bojador, além da dor, a te esperar
(Jude, me desculpe se isso fere seu orgulho
matenho-me tanto quanto minhas promessas
Fernando, estarei junto a ti)
Mas se resolveres ficar
Quando se sentir completo
Talvez se encontre
E sozinho, porém inteiro,
lembre-se que te amo
De forma incerta, porém real

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Sei que nunca foi do teu interesse
mal algum me fazer
E saber que me amas de volta
(ainda que sentisse a tua dor)
Sempre foi minha alegria secreta
E ás vezes até meu sustento

Mas, meu amor, quanto medo senti!
Quando me deparei com outro alguém
que os defeitos mesmo me agradam
Assim como amo tuas imperfeiçoes
Meramente por fazerem parte de ti

O quão pavoroso é gostar de outro alguém
Como buscar areia no fundo do mar com pés cansados
Eu, logo eu!, animal terrestre
Envolta de tanta água
E tu hoje és cadáver
que o mar insiste em trazer a minha praia
Enquanto me convenço que ainda és tela irreal
em que erro em cor minha arte
Como quando costumávamos ler Pessoa

(Ah, Fernando, velhos tempos!
Em que falávamos sobre a vida
Se algum dia me curar dessas feridas
e quiser retornar a praia
espero que seja em mar português
além do bojador, além da dor)

Hoje estou acabada
Assistindo a ruína de tudo o que fui
E do que eu queria ser quando fui
Ao menos é amor o que sinto
Aliás, longe disso
(ou talvez nem tanto assim, não o sei
O tempo passou tão rápido
Talvez só minha memória tenha notado)
E logo o que era minha essência
De mim já não faz parte

Já não amo, perduro
Matenho meu escudo deteriorado
Por senão o tempo
junto ao peito
Em sinal que não desertei meu posto

Estou exposta
Vulnerável a tudo que condeno
E os outros homens que pela vida passaram
sem nunca serem notados
Hoje me amedrontam
Donos de toda a minha atenção

Meu amor, que saudade de te amar!

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Esatava lendo Vladimir Nabokov e me deu vontade de dizer:
Pierre, onde quer que você esteja, bêbado ou de ressaca, Pierre, tudo de bom pra você!

quarta-feira, 19 de maio de 2010

"Há uma fresta em minha alma por onde a substância do que sou está sempre se escapando mas não vejo onde nem por quê."

"Você não é mais velho do que eu: você é uma coisa sem idade. A eternidade de seu espírito impregnou no seu corpo, de modo que parece que o corpo está se tornando irmotal e em consequência o espírito envelheceu. Daí o desequilíbrio. Talvez uma cadeira de rodas resolvesse o seu problema."

"Ou do que não estou dizendo, pois é preciso ouvir apenas o que não se diz. Quem tiver ouvidos para ouvir, ouça. Eu ia chegar nela. A música tamvém é silêncio. Bach sabia disso, Mozart também. Beethoven só soube quando ficou surdo. O ar não é silencioso? O vento não faz barulho? E o que é o vento senão ar? A música é o silêncio em movimento."

"Daí sua conduta, aberta numa dualidade irremediável: de um lado o que ele queria ser e de outro o que ele realmente era. Agora, por exemplo, estava apenas no que ele realmente era, a ponto de nem saber direito o que queria ser. (...)
- Desgraçado daquele que vê: há de pagar pelo crime de ter visto pouco. (...) Eu quis dizer apenas que quem vê as coisas como elas são, há de pagar por não ter visto como elas deviam ser."

Fernando Sabino
Era Ana, irremediavelmente Ana. Não adiantava se contorcer.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

"A indiferença e o abandono muitas vezes causam mais danos do que a aversão direta." J. K. Rowling

domingo, 2 de maio de 2010

Eu sou egoísta

Já dizia o Raul.

domingo, 18 de abril de 2010

"But lest you are my enemy
I must enquire,
"O no, my dear, let all that be;
What matter, so there is but fire
In you, in me?"

Yeats
"The mask"
"A cigarette is the perfect type of perfect pleasure. It's exquisite, and it leaves one unsatisfied. What more can one want?"

- Oscar Wilde
O retrato de Dorian Gray

domingo, 14 de março de 2010

"But while we're apart, don't give your heart to anyone."

quinta-feira, 11 de março de 2010

"Gastei tudo que não tinha.
Sou mais velho do que sou.
A ilusão, que me mantinha,
Só no palco era Rainha:
Despiu-se e o reino acabou."

Pedacinho do "O andaime" do Pessoa