segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Ele foi pra guerra só impressionar a sua mulher, que tinha sido manipulada pelo nacionalismo - o que qual deu motivos (que foram acreditados e até reais enquanto consolavam as famílias dos heróis de guerra) para o que não se justifica.
Dê-me afeto, porque eu vou morrer esta noite. Dê-me uma bebida, eu estou indo lá pra baixo e eu não vou voltar.
E pensar que toda a minha felicidade cabe dentro de um envelope porque tudo o que resta de mim está sorrindo naquela foto do último natal, que será a última lembrança do que eu costumava ser e de todas as coisas que eu queria ser quando fui.
Agora ao menos posso encarar um espelho para assistir o mental se refletir no físico e me afirmar com todas as certezas de que esse é o fim.
Todas as minhas ambições hoje se resumem a volta àquela rotina pacata que tanto condenei quando ainda tinha tempo pra filosofia. Além de ver mais uma vez aquela cidade onde meus familiares irão receber minha última lembrança dentro de uma caixa com uma medalha dourada que darão ao meu filho para servir de pai.
Agora eu invejo meu companheiro de quarto por ter uma mulher que mesmo iludida o verá de fato como um herói e aceitará de bom grado as honras da nação que o matou lhe dará por matar filhos de outra pátria.
Voltando a filosofia eu me pergunto se a vida é mesmo tão cruel e terrível que a linha que a separa da morte tenha que ser tão tênua. Ou se toda sua beleza se esconde nesse buraco no qual eu agora estou afundado enquanto o destino decide se o céu, o inferno ou o purgatório me esperam do outro lado.
Agora nesses meus minutos finais tenho até certo prazer em ver o fim pois até ele é mais fácil de enfrentar do que a morte inevitável que o meu eu teria em vida. Afinal tudo na guerra morre e tudo nela fica.
Nem mesmo terei direito a bebida que queria, como realizariam a um prisioneiro qualquer seu último desejo. Mas nada me faz menos assassino do que aqueles que aguardam no corredor da morte.
Ao menos esse seria meu último desejo. Queria morrer com música, queria morrer por uma causa, queria morrer por mim, queria morrer por uma pátria que não matasse ninguém.
Quem sabe este seja meu paraíso.

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